Duplo Silêncio.
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Dois amigos
cultivavam o mesmo campo de trigo, trabalhando arduamente a terra com amor e
dedicação, numa luta estafante, às vezes inglória, à espera de um resultado
compensador.
Passam-se
anos de pouco ou nenhum retorno até que um dia, chegou a grande colheita.
Perfeita, abundante, magnífica, satisfazendo os dois agricultores que a
repartiram igualmente, eufóricos. Cada um seguiu o seu rumo.
À noite, já
no leito, cansado da brava lida daqueles últimos dias, um deles pensou:
-Eu sou
casado, tenho filhos fortes e bons, uma companheira fiel e cúmplice. Eles me
ajudarão no fim da minha vida. O meu amigo é sozinho, não se casou, nunca terá
um braço forte a apoiá-lo. Com certeza, vai precisar muito mais do dinheiro da
colheita do que eu.
Levantou-se
silencioso para não acordar ninguém, colocou metade dos sacos de trigo
recolhidos na carroça e saiu.
Ao mesmo
tempo, em sua casa, o outro não conciliava o sono, questionando:
- Para que preciso
de tanto dinheiro se não tenho ninguém para sustentar, já estou idoso para ter
filhos e não penso mais em me casar? As minhas necessidades são muito menores
do que as do meu sócio, com uma família numerosa para manter.
Não teve
dúvidas, pulou da cama, encheu a sua carroça com a metade do produto da boa
terra e saiu pela madrugada fria, dirigindo-se à casa do outro. O entusiasmo
era tanto que não dava para esperar o amanhecer.
Na estrada
escura e nebulosa daquela noite de inverno, os dois amigos encontraram-se
frente a frente. Olharam-se espantados. Mas não foram necessárias as palavras
para que entendessem a mútua intenção.
* * *
Amigo é
aquele que no seu silêncio escuta o silêncio do outro.
(autor desconhecido)
Fonte:http://www.minutopoetico.com.br/msg538.php
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